domingo, 28 de novembro de 2010

A Menina Que Roubava Livros





Um dos meus preferidos, absolutamente - porque eu estava lá, eu via a menina que roubava livros de perto, eu sentia a neve debaixo dos pés, e eu também percebi os olhos tristes do judeu naquela marcha fúnebre.
A história de Liesel Meminger, narrada pela Morte. É, pela Morte mesmo, como você nunca pensou que ela pudesse contar qualquer coisa. Uma menina na Alemanha nazista de Hitler - e nada de Heil Hitler! aqui, urgh - que descobriu, após chegar à Rua Himmel num dia congelado e conhecer seus pais adotivos, a paixão por roubar e devorar livros. A primeira aquisição de Liesel foi um manual de coveiro, que ela resgatou da neve quando o coveiro o deixou cair no chão, no enterro improvisado de seu irmão mais novo. A partir de então, a menina foi cuidadosamente adquirindo uma bela coleção - que no final da história, se perdeu em uma mistura de cinzas e neve.
Acho que vocês vão gostar de saber que Rosa Hubermann, a mãe adotiva de Liesel, é bastante adepta a palavras pouco honrosas. A primeira palavra em alemão que aprendi, através das imprecações de Rosa: Saukerl. É, como a Morte disse, os alemães devem gostar muito dos porcos, por um motivo que ambas desconhecemos. Mas não se enganem, a "mamãe" de Liesel não é nenhuma carrasca, apenas gosta dos palavrões. Em alguns momentos, Rosa Hubermann chega a ser bastante amável, por incrível que pareça.
O que falar de Hans Hubermann, o pai de Liesel? Ah, se todos os pais do mundo fossem como ele, as crianças estariam à salvo para sempre. Como Hans é pintor, ele encontra uma maneira muito criativa de ensinar a filha a ler: pintando as palavras na parede branca do porão - o mesmo porão frio que salvou Liesel.
Mas então você deve estar se perguntando onde está o drama todo dessa história, afinal, é a Alemanha nazista, o führer - como os alemães se referiam respeitosamente à Hitler, o líder - os judeus, as mortes, os pijamas listrados, a guerra. Tudo isso começa para Liesel quando o pai abriga Max Vandenburg em seu porão, um judeu. No entanto, para a menina que roubava livros, Max não era um judeu, ele era seu melhor amigo. Cara, vocês precisam ler a história que o Max escreveu para a Liesel. É de emocionar qualquer um. A Sacudidora de Palavras.
Não vou contar o que aconteceu com a Liesel, com o Max, com o Hans e a Rosa Hubermann, com a Rua Himmel, porque iria perder toda a graça da surpresa. Deixo apenas uma passagem que me fez chorar, porque imaginei a boca sem cor do Max tremendo:

"Sua voz extinguiu-se e desapareceu dentro do corpo. A menina teve que reencontrá-la - procurar lá no fundo, reaprender a falar e chamar o nome dele.
Max.

- Estou aqui, Max!
Mais alto.
- Max, estou aqui!

Ele a ouviu.
Havia gravetos de cabelo, como Liesel tinha pensado,
e os olhos alagadiços foram andando de ombro em ombro,
por cima dos outros judeus. Ao chegarem a ela, foram súplices.
A barba afagou o rosto de Max e sua boca tremeu
ao dizer a palavra, o nome, a menina.
Liesel."

Eu nunca gostei do Nazismo e do Hitler com seu bigodinho ridículo, das suásticas e toda aquela conversa de raça superior, mas quando terminei de ler A menina que roubava livros, de Markus Zusak, passei a sentir horror por tudo isso. Quantos judeus foram assassinados pela vontade hedionda de um único homem? Quantas crianças sentiram medo e choraram por que seus pais não estavam ali? - e nunca mais voltariam. Quantas famílias foram destruídas? Quantos sonhos foram mortos? E a Morte esteve sempre ali, recolhendo as almas e as carregando em seus braços. Hitler não era humano, não era um gênio - como muitos insistem -, não era digno de ser um líder. Ele era apenas um psicopata sorrindo à dor alheia.

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