quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O livro perdido das Bruxas de Salem






Você pode até não acreditar em bruxas, feitiços e toda essa coisa de magia, mas vai adorar descobrir os mistérios do livro de Katherine Howe, O livro perdido das Bruxas de Salem. E antes de mais nada, saiba que a bruxaria não é apenas história que o povo andou inventando ao longo dos anos. O pânico de Salem realmente existiu em meados de 1600, e várias mulheres foram enforcadas sob o crime de bruxaria.
A autora, descendente de Elizabeth Howe - condenada por bruxaria -, procura se basear no máximo de informações verdadeiras sobre o surto de Salem para criar sua história, assim como os métodos - absurdos, eu acrescento - para identificar no corpo das mulheres sinais que as denunciassem bruxas, o sistema dos julgamentos realizados na época, o contexto social e até mesmo detalhes como o vestuário das personagens.
A história desenvolve-se em torno do livro de feitiços de Deliverance Dane, que foi passado de mãe para filha durante várias gerações até chegar a vez de Connie, uma historiadora do período colonial que mora em Cambridge. A questão é que Connie não acredita em misticismos, e resiste enquanto pode para afastar de si coisas que ela não pode explicar. Ao mesmo tempo, no entanto, ela muda-se para a casa da falecida avó, em Marblehead, e ao encontrar escondido em uma chave o nome Deliverance Dane, mergulha de cabeça em pesquisas para descobrir mais sobre aquela mulher. Quem era ela? Por que seu nome estava dentro da chave?
A partir de então, Connie não pode mais voltar atrás, principalmente quando descobre a existência de um livro de feitiços, que se torna a grande motivação de sua curiosidade. Coisas estranhas começam a acontecer, não apenas ao redor de Connie, mas com ela mesma, e acredite... Você não vai querer parar de ler até descobrir toda a verdade sobre as bruxas de Salem e a relação inimaginável que elas têm com Connie.

É revoltante saber, no entanto, que várias mulheres foram condenadas e enforcadas simplesmente porque boatos se espalharam sem controle algum. Boatos absurdos, inclusive: pessoas argumentavam ter visto uma bruxa voando em sua vassoura de fogo durante a noite, jogando ameaças ao vento e fazendo um pacto com o Diabo, e isso era o suficiente para condenar uma mulher à morte.
Deixo então a sugestão de leitura, e embora a narrativa seja fácil e leve, a história é contagiante.

domingo, 28 de novembro de 2010

O Vermelho e o Negro





Nunca tinha ouvido falar em O vermelho e o negro, de Stendhal, até o dia em que vi uma lista de livros usados na internet que um cara estava vendendo por bem barato. Fui pesquisar sobre o autor, e assim que descobri que Stendhal era um escritor russo, comprei o livro sem pensar duas vezes. Sou fascinada pela literatura russa, mas enfim.
Mais do que um romance de costumes, O vermelho e o negro é uma crônica política, ou uma crítica à sociedade de seu tempo, é um estudo psicológico da ambição, um estudo profundo "sobre os motivos secretos dos atos e a qualidade interior das almas na sociedade criada pela Revolução", como disse o crítico Gustave Lanson. Encontramos aqui o orgulhoso Julien Sorel - considerado a maior criação stendhaliana - um humilde camponês do condado francês que se torna professor particular de latim e, posteriormente, conhece a famosa Paris ao ser contratado por um nobre Marquês de LaMole e instalar-se em seu castelo. Toda a ambição de Julien é criar fortuna e ser reconhecido pela sociedade, mas, inexperiente nos assuntos da nobreza e muitas vezes equivocado sobre seus sentimentos, o jovem Sorel acaba travando lutas consigo mesmo, entre aquele que ele ainda é e aquele que ele quer ser. Quando conhece a verdadeira vida hipócrita e tediosa de Paris, Julien passa a desprezar a nobreza e percebe que foi muito feliz enquanto vivia no condado, protegido pelo amor inocente da Sra. de Rênal.
No entanto, Julien não pode simplesmente abandonar Paris, pois lá conheceu a elegante srta. Mathilde de LaMole, por quem pensou estar perdidamente apaixonado e com quem se casou, apesar dos protestos do pai dela. Não apresentarei o grande clímax do romance, onde Julien encontra-se preso e prestes a perder a cabeça. Apenas afirmo seguramente que O vermelho e o negro é uma bela opção de leitura para aqueles que apreciam a luta interna de um personagem sobre o que é bom e o que é certo, em uma sociedade onde exageros não são permitidos e deslizes tampouco perdoáveis.

No início de cada capítulo, Stendhal insere pequenos trechos de vários autores, e aqui apresentarei um de Shakespeare - outro de meus favoritos:
"Oh, como este desabrochar do amor relembra a incerta glória de um dia de abril; que agora mostra toda a beleza do sol e daqui a pouco uma nuvem obscurece completamente!"

A Menina Que Roubava Livros





Um dos meus preferidos, absolutamente - porque eu estava lá, eu via a menina que roubava livros de perto, eu sentia a neve debaixo dos pés, e eu também percebi os olhos tristes do judeu naquela marcha fúnebre.
A história de Liesel Meminger, narrada pela Morte. É, pela Morte mesmo, como você nunca pensou que ela pudesse contar qualquer coisa. Uma menina na Alemanha nazista de Hitler - e nada de Heil Hitler! aqui, urgh - que descobriu, após chegar à Rua Himmel num dia congelado e conhecer seus pais adotivos, a paixão por roubar e devorar livros. A primeira aquisição de Liesel foi um manual de coveiro, que ela resgatou da neve quando o coveiro o deixou cair no chão, no enterro improvisado de seu irmão mais novo. A partir de então, a menina foi cuidadosamente adquirindo uma bela coleção - que no final da história, se perdeu em uma mistura de cinzas e neve.
Acho que vocês vão gostar de saber que Rosa Hubermann, a mãe adotiva de Liesel, é bastante adepta a palavras pouco honrosas. A primeira palavra em alemão que aprendi, através das imprecações de Rosa: Saukerl. É, como a Morte disse, os alemães devem gostar muito dos porcos, por um motivo que ambas desconhecemos. Mas não se enganem, a "mamãe" de Liesel não é nenhuma carrasca, apenas gosta dos palavrões. Em alguns momentos, Rosa Hubermann chega a ser bastante amável, por incrível que pareça.
O que falar de Hans Hubermann, o pai de Liesel? Ah, se todos os pais do mundo fossem como ele, as crianças estariam à salvo para sempre. Como Hans é pintor, ele encontra uma maneira muito criativa de ensinar a filha a ler: pintando as palavras na parede branca do porão - o mesmo porão frio que salvou Liesel.
Mas então você deve estar se perguntando onde está o drama todo dessa história, afinal, é a Alemanha nazista, o führer - como os alemães se referiam respeitosamente à Hitler, o líder - os judeus, as mortes, os pijamas listrados, a guerra. Tudo isso começa para Liesel quando o pai abriga Max Vandenburg em seu porão, um judeu. No entanto, para a menina que roubava livros, Max não era um judeu, ele era seu melhor amigo. Cara, vocês precisam ler a história que o Max escreveu para a Liesel. É de emocionar qualquer um. A Sacudidora de Palavras.
Não vou contar o que aconteceu com a Liesel, com o Max, com o Hans e a Rosa Hubermann, com a Rua Himmel, porque iria perder toda a graça da surpresa. Deixo apenas uma passagem que me fez chorar, porque imaginei a boca sem cor do Max tremendo:

"Sua voz extinguiu-se e desapareceu dentro do corpo. A menina teve que reencontrá-la - procurar lá no fundo, reaprender a falar e chamar o nome dele.
Max.

- Estou aqui, Max!
Mais alto.
- Max, estou aqui!

Ele a ouviu.
Havia gravetos de cabelo, como Liesel tinha pensado,
e os olhos alagadiços foram andando de ombro em ombro,
por cima dos outros judeus. Ao chegarem a ela, foram súplices.
A barba afagou o rosto de Max e sua boca tremeu
ao dizer a palavra, o nome, a menina.
Liesel."

Eu nunca gostei do Nazismo e do Hitler com seu bigodinho ridículo, das suásticas e toda aquela conversa de raça superior, mas quando terminei de ler A menina que roubava livros, de Markus Zusak, passei a sentir horror por tudo isso. Quantos judeus foram assassinados pela vontade hedionda de um único homem? Quantas crianças sentiram medo e choraram por que seus pais não estavam ali? - e nunca mais voltariam. Quantas famílias foram destruídas? Quantos sonhos foram mortos? E a Morte esteve sempre ali, recolhendo as almas e as carregando em seus braços. Hitler não era humano, não era um gênio - como muitos insistem -, não era digno de ser um líder. Ele era apenas um psicopata sorrindo à dor alheia.

sábado, 27 de novembro de 2010

O Morro dos Ventos Uivantes





É lamentável que muita gente tenha começado a ler O morro dos ventos uivantes, da Emily Brontë, apenas pela referência feita em um dos livros da série Crepúsculo, onde a Bella está fingindo que lê o livro e agora as adolescentes fanáticas querem fazer o mesmo, mas enfim. Para quem leu realmente o romance da inglesa Emily Brontë, se deixou mergulhar na história e conhecer a vida - geralmente - cruel de Morros Uivantes, vamos aos comentários.
Em primeiro lugar, não sei até hoje se odeio ou se amo o inflexível Heatcliff, o garoto adotado pelo Velho Earnshaw e que sofreu maus tratos e foi humilhado durante toda a infância pelo "irmão" Hindley, o verdadeiro filho do dono de Morros Uivantes. Assim, Heatcliff foi se tornando amargo, frio, cruel e, muitas vezes, podemos atribuir a ele o adjetivo desumano. Ainda na infância, se apaixonou por Catarina, a filha do Velho Earnshaw, mas por seus modos quase selvagens e pela pouca educação, sentiu-se rejeitado e acuado pela elegância e requinte daquela que deveria ser sua irmã. Bom, é difícil explicar, mas a partir daí desenvolve-se um romance violento, sofrido e cheio de amarguras.
Algumas vezes, senti profunda raiva e desprezo pelo assustador Sr. Heatcliff, mas ao concluir a última página do livro, não pude deixar de sentir uma inexplicável admiração pelo carrasco da história. Algumas vezes, eu sei, escondemos nossos verdadeiros sentimentos atrás de máscaras, erguemos barreiras ao nosso redor e nos acostumamos a sofrer com a dor da ausência da pessoa que amamos, pois talvez assim nos conformemos com a realidade. A realidade de que aquela pessoa jamais será nossa, de que nosso amor jamais poderá ser aceito. Talvez, Heatcliff estivesse tentando esquecer seu sentimento por Catarina enquanto a fazia sofrer e enquanto torturava a si próprio.
Enfim, leiam e tirem suas próprias conclusões. O romance é ótimo, instigante, e você não consegue parar de ler em alguns momentos.

Uma passagem que gostei:
"Todas as relíquias dos mortos são preciosas, se nos eram êles caros quando vivos." (p. 130)

A Mulher do Viajante do Tempo


Para quem gosta de romances fantásticos, aí vai uma boa dica de leitura. A mulher do viajante do tempo, da norte-americana Audrey Niffenegger, é uma história cheia de peças que o leitor precisa organizar enquanto acompanha capítulo por capítulo - e se vale aqui uma opinião, é um labirinto do qual você, mesmo se pudesse, não desejaria sair. Henry DeTamble sofre de um distúrbio temporal, e por isso é jogado para o passado e para o futuro a todo momento, tornando-se então o viajante do tempo. Ele conhece Clare quando ela ainda é uma criança, e ele um homem estranho com barba por fazer. Naquele momento, a inocente Clare Abshire ainda não sabia, mas Henry surgiria e desapareceria diante dela por toda a sua vida.
Muitas vezes nos perguntamos se vale a pena continuar esperando por alguém que pode nunca chegar, por alguém que está muito longe e não sabe como retornar. Essa é a grande dúvida de Clare em alguns momentos, afinal, ela sabe que mesmo se gritar pelo nome de Henry, ele não pode simplesmente voltar. Ele é um viajante do tempo, no final das contas, e ela apenas a mulher que espera, e espera... E espera.
Li o livro há algum tempo, e gostei muito. Apesar de ter saído um filme sobre a história - que, francamente, é terrível e superficial -, leaim o livro. Vale muito a pena, e eu recomendo.

Uma passagem do prólogo que acho muito bonita e que é realmente fiel à história:
"Odeio estar onde ela não está, quando não está. No entanto, vivo partindo, e ela não pode vir atrás."